Documentos obtidos pela Folha com base na Lei de Acesso à
Informação mostram que, de 2007 a 2010, o governador ficou pelo menos
134 dias no exterior ao participar de 27 missões oficiais.
Em maio do ano passado, nota preparada pela assessoria de Cabral
informou que o governador passara 99 dias fora do país -ou seja, 35 dias
a menos do que revelam os documentos obtidos agora.
A nota divulgada no ano passado foi uma resposta a um questionamento feito pela Folha na época em que foram divulgadas fotos de Cabral com o empresário Fernando Cavendish, dono da construtora Delta, em Paris.
Os documentos obtidos agora são processos administrativos que aprovaram o
pagamento de diárias para Cabral e as pessoas que o acompanharam nessas
viagens.
Das 27 missões oficiais realizadas no período, foram liberados
relatórios referentes a vinte. Em seis viagens, não houve pagamento de
diárias. O governo não liberou o processo referente a uma viagem, sem
dar justificativa.
Questionada sobre a divergência entre os relatórios e as informações
prestadas há um ano, a assessoria de Cabral afirmou que em 2012 só
divulgou datas em que o governador teve compromissos "que mereceram
publicidade".
Os documentos obtidos pela Folha mostram que, em três viagens à
Europa, Cabral recebeu diárias dos cofres públicos por períodos em que
não havia nenhum compromisso oficial em sua agenda.
Isso ocorreu na viagem de setembro de 2009 a Paris, em que Cabral e
assessores foram fotografados ao lado de Cavendish. Ele recebeu R$ 6.384
em diárias por essa viagem.
Embora seus compromissos oficiais só tivessem início em 14 de setembro, o
governador embarcou no dia 10 para Paris e recebeu diárias pelos três
dias que passou na cidade antes da missão oficial.
A assessoria de Cabral diz que ele participou nesses dias de encontros
preparatórios para a apresentação da candidatura do Rio como sede da
Olimpíada de 2016, mas os documentos não fazem referência a essas
reuniões.
O mesmo ocorreu em duas outras viagens do governador, para Paris e
Londres, em 2008. Ele embarcou bem antes do início de seus compromissos
oficiais e recebeu recursos públicos para cobrir suas despesas nesses
dias.
O relatório sobre outra viagem, que levou Cabral a Davos, na Suíça, em
2009, informa que antes ele passou em Paris, onde se hospedou num hotel
que cobrava diária de US$ 350. Na Suíça, o hotel de Cabral cobrou US$ 95
por dia.
Os relatórios do governo mencionam os preços das diárias, mas não dão os
nomes dos hotéis em que o governador ficou. De acordo com sua
assessoria, Cabral precisou dormir em Paris para esperar uma conexão
para a Suíça.
Os documentos obtidos pela Folha só têm informações sobre o
primeiro mandato de Cabral porque o pagamento de despesas em viagens
oficiais passou a ser feito com cartões de crédito corporativos, e não
mais com diárias.
Seguindo padrão adotado pelo governo federal, o Rio classificou os
documentos que detalham as despesas com os cartões como "reservados" e
poderá mantê-los em sigilo por cinco anos.