Candidato ao governo do Estado pela segunda vez, ele fala de seus ideais, critica a forma de se fazer política no Rio e defende a construção da linha de metrô ligando Niterói ao Rio
Mineiro de fala mansa e atitudes fortes, o deputado federal Fernando Gabeira (PV) disputa pela segunda vez o governo do Estado, agora apoiado na surpreendente campanha à Prefeitura do Rio, em 2008, quando perdeu por uma pequena margem de votos para Eduardo Paes (PMDB). Militante político, escritor, jornalista e pai de duas filhas, Gabeira faz questão de fugir da figura tradicional do político brasileiro. O verde mostrou que está muito além da roupa descolada e da defesa de ideias polêmicas, como a legalização das drogas. Em entrevista a O FLUMINENSE, criticou a forma de se fazer política no Estado, cobrou investimentos na polícia e defendeu a construção da linha de metrô ligando Niterói ao Rio.
Por que o senhor acredita que vá vencer esta eleição?
Acredito em vencer esta eleição porque acho que há uma demanda, ainda não muito clara na população, de substituir o domínio político do Estado do Rio de Janeiro e tirá-lo do grupo que está aí há 12 anos e que, de uma certa maneira, empobrece muito a nossa vida política. Então espero vencer porque é um desejo de renovação que nesse momento eu encarno.
O senhor acredita que o amplo apoio dos prefeitos a um candidato pode ser revertido em votos?
É a grande pergunta que eu faço. O quanto (eles) combinaram com o povo. Porque também decidiram fazer uma manifestação de 100 mil pessoas e no final só tinha 500. Também tem uma coisa: toda cidade do interior tem um prefeito e ele apóia alguém, mas também tem a oposição. Então, as cidades não são uniformes. Não obedecem ao prefeito. Acho que temos de relativizar essa questão. Recentemente soube que um prefeito ia me apoiar. Eu disse: ‘não me apóia não que vai te atrapalhar. Vamos esperar um pouco para ver como é que fica’. Acho que com o tempo, à medida que a campanha for crescendo, as coisas mudam.
Em entrevista, o senhor chegou a classificar essas alianças como uma velha política “chaguista” e clientelista. É possível se eleger sem o chamado jogo fisiológico?
Acho que é possível não só vencer as eleições, como governar sem o jogo fisiológico, clientelista. É verdade que hoje há um grande número de prefeitos apoiando o governador. Mas o nosso acordo não vai ser com prefeitos, vai ser com a sociedade. Acho que unindo com a sociedade, ainda que seja em certos momentos, uma posição diferente da dos prefeitos, temos condição de vencer. E depois governando, (vamos) governar com o orçamento. Determinar a importância de cada região e depois atender a cada região independente da simpatia do deputado ou do prefeito.
Uma das bandeiras da atual gestão é a boa relação entre as três esferas de governo. É possível fazer um bom governo sem essa aliança?
Acho que pode haver uma boa convivência política (com adversários), mas você pode dizer para o adversário que ele não precisa se vender. Ele não precisa deixar de ser adversário para a gente trabalhar junto. O que importa não é minha relação com ele (político adversário), mas a relação com as pessoas que são representadas por ele.
Onde o atual governo acertou?
O acho que o governo avançou em duas secretarias. Uma é a Secretaria de Finanças, onde houve certo avanço na organização das finanças do Estado. A outra secretaria que teve algum avanço foi a Secretaria de Segurança que teve alguma avanço com a criação das UPPs (Unidades de Política Pacificadora). Mas ainda falta muito.
O que falta? Onde ele errou?
A segurança não pode ser pensada em apenas 1% das comunidades do Estado. Tem que ser pensada no conjunto. Existem outros elementos da segurança que não estão sendo mencionados. Como é possível uma polícia que leva oito meses para fazer o exame da urina de uma mulher que denuncia ter sido espancada? (referência ao Caso Bruno). Como é possível você fazer uma operação armada diante de um Ciep na hora que as crianças estão estudando e uma criança morrer com um tiro no peito? (referência ao menino Wesley, de 11 anos, morto no Ciep Rubens Gomes, em Costa Barros). Como é possível uma polícia que não só cobra para libertar uma pessoa que matou outra em um túnel, como cobra para desfazer a cena do crime? (referência ao acidente que resultou na morte de Rafael Mascarenhas). Isso tudo dá na sociedade uma sensação de que há muito caminho a percorrer.
Então, o que fazer?
É preciso reformar a polícia. Em primeiro lugar é preciso atendê-la mais em suas reivindicações. Fui defensor da PAC 300 porque ela significa um aumento salarial que é um avanço. Mas não é só isso. Tem que ter melhoria no treinamento, melhores equipamentos, mais inteligência, mais investigação. No Rio de Janeiro hoje, se você assassina uma pessoa, você tem 93% de chance de não ser alcançado porque só 7% dos homicídios são investigados. Temos de superar esta fase.
Se eleito, as UPPs vão chegar a outras cidades, como Niterói?
Sem dúvida. Mas, quero dizer uma coisa: não seria honesto dizer que vai ter UPP em todo lugar. Se levarmos em conta a relação entre número de soldados e habitantes, e projetar para todo o Estado, precisaríamos do exército chinês. Você tem que combinar políticas: UPPs em alguns lugares e, em outros, o trabalho preventivo com uso de inteligência e apoio da comunidade. É preciso combinar os meios porque não há dinheiro e condições para fazer UPPs em todo o Estado.
A euforia com o anúncio da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 virou preocupação?
É fundamental recuperar o tempo perdido. Grande parte dos atrasos são decorrentes de um processo antigo e viciado no Brasil de deixar para a última hora e superar os procedimentos legais da obra. Isso abre uma chance muita grande para corrupção.
Falando um pouco da região, como resolver os engarrafamentos que são uma das principais preocupações em Niterói?
O acesso à Ponte Rio-Niterói tem que ser revisto. É um dos gargalos que atrapalham o trânsito. Há uma possibilidade, que falta um estudo de viabilidade, que é de usar a ponte para a conexão por trens. Aquela tão desejada entre o Rio e Itaboraí. Acho que é uma conexão importante.
O Morro do Bumba evidenciou outros dois grande problemas da região: saneamento básico e habitação. Como sanar estes déficits?
Saneamento básico é uma questão vital. Será prioridade. É indispensável para habitação. Vamos fazer um processo chamado Poupa Tempo. É um conjunto de estruturas funcionais que você ajuda as pessoas a organizarem todos os documentos para poder comprar e ter sua casa. A gente constatou que a burocracia é um dos grandes problemas que tem que ser combatido.
Como preparar o Estado para as mudanças no sistema de royalties?
Você vê que as cidades que mais recebem este recurso têm os piores índices de saúde e educação. Então, o primeiro ponto que avançaria na luta pelos royalties é a transparência. Mas estou seguro que os recursos da produção mais superficial não serão alterados. Porque são contratos feitos.
Nos últimos dias se comentou a possibilidade de o senhor receber o apoio da vereadora Clarissa Garotinho (PR). O senhor aceitaria? Como ficaria em relação aos pais dela (os ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho)?
Nós achamos que ela tem tido um bom desempenho como vereadora e temos o princípio de não confundir os pais com os filhos. Minha filha acaba de ganhar residência nos Estados Unidos e eu não consigo entrar lá. Não vamos discutir o apoio dos pais. Eles estão correndo na sua faixa e nós respeitamos. Como eu disse, uma coisa são os filhos e a outra são os pais.
O Fluminense