JORNAL DO BRASIL
O delegado federal Marcelo Nogueira de Souza que, desde 2007 atuava
na área de inteligência da vice-governadoria do Estado do Rio,
colaborando nas investigações em torno das obras do PAC, agora é
investigado.
Ele é o principal alvo da "Operação Dignidade" que
nesta quinta-feira (5) desbaratou um esquema ilegal de exumação de
cadáveres para reaproveitamento das covas, em cinco cemitérios de Duque
de Caxias, na Baixada Fluminense.
Coincidentemente, nesta
quinta-feira, o Diário Oficial do Estado publicou a exoneração "a
pedido" do delegado suspeito. Segundo a assessoria do vice-governador
Luiz Fernando Pezão, a exoneração foi solicitada no dia 1º, embora
publicada quatro dias depois. Na explicação oficial, a indicação do
delegado Souza para atuar na vice-governadoria "foi da área técnica a
fim de desenvolver trabalho de inteligência policial nas obras do PAC
das comunidades".
O delegado foi sócio de duas das sete funerárias
que realizam enterros em Caxias. Até hoje, os mesmos estabelecimentos
continuam sob gestão de seus familiares. Seis funerárias, das quais
cinco em Caixas - Funerária Nossa Senhora da Apresentação LTDA EPP, JNS
Serviços Funerários LTDA, JNS Rede de Assistência Familiar, Nova
Assistência - Consultoria e Assessoria Empresarial LTDA. e Envida
Auxílio Funeral - e a JBS Serviço Funerário Internacional LTDA ME, no
Rio, são de seus familiares.
Elas, junto com a Nova Assistência -
Serviços e Assistência 24h LTDA., que pertence a conhecidos dele,
monopolizam o setor em Caxias. As informações foram descobertas após uma
CPI na Câmara de Vereadores do município e tornaram-se motivo de
investigação da Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da
Polícia Federal (DMAPH).
Na operação desta quinta-feira, da qual
participaram policiais civis da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente
(DPMA), policiais militares do Batalhão de Polícia Florestal e Meio
Ambiente (BPFMA), e técnicos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea),
constatou-se a exumação de cadáveres antes de decorridos os três anos
exigidos por lei. "Os ossos eram retirados antes do tempo de exumação
para dar lugar a outro pagante. O que vemos aqui é indigno", comentou
Fábio Sclia, titular DMAPH.
Outra suspeita levantada foi a da possível venda de ossadas para universidades e rituais de magia negra. Como o Jornal do Brasil já
informou, no cemitério Nossa Senhora das Graças, na Vila Operária,
entre as ossadas exumadas fora do tempo estava a do menor Henrique
Guilherme Mendes da Silva, de um ano, enterrado em novembro passado. Sua
cova estava aberta e vazia. Os ossos desapareceram. "A administração do
cemitério terá que explicar o destino do corpo", prometeu o titular da
DPMA, delegado José Fagundes de Rezende.
O pai do delegado
Nogueira, Joarene Nogueira de Souza, confirma ser sócio de duas
funerárias e diz que abriu os estabelecimentos após vencer licitação no
município. Segundo ele, até então funcionava uma máfia na cidade que
quer retomar os negócios.
"Antes de abrir a Funerária Nossa
Senhora da Apresentação Ltda. EPP, em 2009, esse serviço era uma máfia e
essas mesmas pessoas que comandavam o esquema estão fazendo de tudo
para retornar", acusou Joarene.
Ele negou a existência de acordo
entre funerárias e os cemitérios da cidade para a liberação de covas com
exumações precipitadas. Segundo a polícia, as covas "abertas" com a
retirada dos corpos antes de três anos enterrados, só serviam para
enterrar corpos enviados pelas funerárias que participavam do esquema,
ou seja, as que pertencem à família do delegado.
Coincidentemente,
a empresa que ganhou, em janeiro, a licitação para explorar os cinco
cemitérios da cidade, a AGR-EYE, tem como advogado Frederico Costa
Ribeiro. Ele vem a ser sócio da Envida Auxílio Funeral junto com Joarene
Nogueira de Souza Junir, irmão do delegado Nogueira. Apesar disto,
Joarene, o patriarca da família, acha injusta a acusação contra o seu
filho delegado. No seu entendimento, ele é alvo dos invejosos. "Estão
sujando o nome dele".
Uma denúncia da CPI, realizada ano passado,
informava que as funerárias teriam prioridade junto aos cemitérios em
Caxias. Por este acerto, só estas mesmas funerárias conseguem vaga para
realizar enterros. Joarene admite a existência de prioridade, mas diz
que ela não é para as funerárias e sim para os moradores da cidade, uma
vez que há pouco espaço para os mortos na região.
Falando como
advogado da AGR-EYE, Ribeiro explicou que os cemitérios contratam uma
empresa de Nova Friburgo para a incinerar os ossos exumados e prometeu
apurar porque eles foram encontrados fora das covas, ao relento.
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