O Ministério Público do Rio pediu a impugnação do vereador Leonardo
Rodrigues Lima, o Léo Comunidade, suspeito de ser representante do
tráfico de drogas na Favela da Rocinha, Zona Sul do Rio, como mostrou o Jornal Nacional. Ele também foi denunciado por oferecer cestas básicas em troca de votos dos moradores.
Por telefone, o candidato Leonardo Rodrigues Lima negou que tenha
relações com o tráfico e disse que desconhece a distribuição de cestas
básicas na Rocinha.
A fila é grande na porta da Associação de Moradores da Rocinha. Quem
entra de mãos vazias sai carregando um embrulho pesado. Nos braços, nos
ombros, na cabeça. As cestas básicas estão por toda parte. As
autoridades afirmam que, na Rocinha, alimentos estão sendo trocados por
votos.
“É praticamente um voto de cabresto. As pessoas têm que dar o número do
título de eleitor, é feito um cadastro, elas participam semanalmente de
uma reunião onde é carimbado um cartão e no final do mês a pessoa que
cumpriu todo esse requisito recebe a cesta básica”, afirmou o major
Edson Santos, comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da
Rocinha.
Ao circular pela comunidade, a reportagem do JN confirmou: a
apresentação do título de eleitor é obrigatória para receber a cesta. Um
dos moradores contou como fez para ganhar o benefício. “Tem que fazer
uma ficha, é a maior política. Eles pedem identidade, CPF, título”,
disse.
Segundo a polícia, o responsável pela distribuição das cestas é
Leonardo Rodrigues Lima, o Léo, presidente da Associação de Moradores.
Ele deixou o cargo para ser candidato a vereador pelo PTN .
Os moradores sabem que o benefício é distribuído em nome de Léo.
“Se ele não ganhar vai diminuir recursos”, afirmou uma moradora.
Gravação da polícia
O próprio Léo Comunidade reconheceu que distribui as cestas, numa
conversa com eleitores gravada pela polícia. “Eles queriam que eu
tirasse a cesta de vocês. Eles não queriam que eu desse cesta. Falei
para eles o contrário: quando eu ganhar, eu vou é aumentar a cesta”,
afirma Léo, na gravação.
Na Rocinha, a preocupação das autoridades vai muito além de um crime eleitoral.
Na campanha, a imagem do candidato aparece ligada a traficantes que
controlavam a Rocinha. Segundo a polícia e o Ministério Público, isso é
feito para criar um clima de medo e desestabilizar a pacificação da
maior favela do Brasil.
O jingle de Léo Comunidade começa com tiros e é muito parecido com um
funk na internet que faz apologia do traficante Antônio Francisco Bonfim
Lopes, o Nem, que controlava a Rocinha antes da pacificação.
Ligação com tráfico
Para o Ministério Público Eleitoral, essa é apenas uma das provas que ligam o candidato ao traficante.
“Na letra do jingle ele claramente se coloca como um dos integrantes da
quadrilha do Nem, o que é inadmissível para uma pessoa que pretende ser
candidato. Pelo que se pode apurar, a candidatura do Léo Comunidade
seria exatamente um braço do tráfico tentando se infiltrar no poder
oficial, provavelmente pra minar essa política de milícias, de UPPs etc,
a exemplo do que as milícias já vêm fazendo”, declarou o promotor Paulo
Roberto Mello Cunha.