A Justiça Eleitoral do Rio de Janeiro recebeu denúncias de que o
narcotráfico age na favela da Rocinha para eleger o sucessor de um
político que morreu em junho e que era, segundo o Ministério Público,
apoiado pelo chefe dos traficantes.
O caso foi encaminhado à Procuradoria da República Eleitoral, que irá
apurar se o deputado estadual André Lazaroni (PMDB), candidato à
reeleição, tem privilégios na favela em relação a seus concorrentes. Ele
nega.
"Existem denúncias de que só ele poderia fazer propaganda de estadual
lá", declarou o juiz Paulo César Vieira. O juiz recebeu um jornal de
campanha de Lazaroni, além de fotos, em que só aparecem placas do
peemedebista em meio a de candidatos a deputado federal.
Com tiragem de 20 mil exemplares, o jornal aponta Lazaroni como sucessor
de Claudinho da Academia. Vítima de infarto, Claudinho tinha sido
eleito vereador pelo PSDC, obtendo na zona eleitoral da Rocinha 8.000 do
total de seus 11.513 votos. Neste ano, ele sairia candidato a deputado
estadual.
DENÚNCIA
O Ministério Público Eleitoral chegou a denunciar Claudinho em janeiro por suposto uso de violência e de ameaçar eleitores.
Ele participou, segundo o Ministério Público, de reunião com o chefe do
tráfico da Rocinha, Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem.
No encontro, Nem teria ameaçado cerca de cem pessoas e dito que só havia
um candidato a vereador na favela, Claudinho, e que nenhum outro
poderia fazer campanha na comunidade.
O suposto esquema foi adotado nas eleições deste ano, segundo o candidato a deputado estadual Adelson Guedes (PMDB).
"Lazaroni encontra todas as facilidades. É a associação de moradores
junto com todos os poderes que você possa imaginar. A associação
manipula o tráfico e andam como uma corja só", declarou o candidato.
ASSOCIAÇÃO
O presidente da UPMMR (União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha), Leonardo Rodrigues Lima, 46, nega a acusação.
"O tráfico [de drogas] aqui não se mete no trabalho da associação. Eu
sou casado. Tenho dois filhos. Eu jamais trabalharia na associação se
tivesse interferência de alguém do tráfico. Eles fazem o trabalho deles.
Eu faço o meu", disse Lima.
Na segunda-feira, Lima acompanhou a Folha pelas ruas na entrada
da favela e apontou placas de outros candidatos a deputado estadual.
"Aqui entra e sai qualquer candidato", disse.
Somente Lazaroni, porém, tinha uma estrutura com cabos eleitorais
uniformizados com a camisa de campanha de Claudinho a vereador.
Na semana passada, a Folha já havia percorrido a estrada que corta a Rocinha. No alto do morro predominam placas de campanha de Lazaroni.
OUTRO LADO
O deputado André Lazaroni (PMDB) diz não ter relação com o tráfico:
"Político não nega votos: as lideranças que trabalhavam para o Claudinho
me adotaram, e aceitei. O que estou fazendo lá é apoiar a comunidade.
Não conheço o trabalho parlamentar dele, mas ele fez um bom trabalho
como líder".
"Não faço acordo com bandidos e acredito nas UPPs criadas pelo
governador Sérgio Cabral. Os que criticam o meu apoio é porque perderam
espaço lá", disse.
Leonardo Rodrigues Lima, da associação de moradores, nega as acusações:
"Os [candidatos] que enganaram a gente não têm o que falar e ficam
falando essas besteiras aí. Dizendo "eu fui lá não deixaram entrar". A
Rocinha é livre, entra e sai quem quer".
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