Quadrilhas no Detran faturavam até R$ 250 mil por mês na região dos Lagos (RJ), diz corregedor
O corregedor do Detran-RJ, delegado David Antonhy Alves, informou nesta quarta-feira (23) que as quadrilhas que atuavam em postos do órgão chegavam a faturar R$ 250 mil por mês com propinas na região do Lagos, norte do Estado do Rio de Janeiro.
As fraudes ocorriam nas cidades Maricá, Saquarema, Japeri, Cabo Frio e Iguaba, mas se concentravam em postos de vistoria em Paracambi, Araruama e São Pedro D’Aldeia e envolviam servidores e prestadores de serviço do Detran-RJ, despachantes e auxiliares.
Pelo menos 36 pessoas foram presas nesta quarta-feira (23). As prisões ocorreram durante a operação Direção Oposta, que tem o objetivo de cumprir 45 mandados de prisão e 44 mandados de busca e apreensão contra funcionários e prestadores de serviço dos Postos de Vistoria do Detran carioca.
“A operação Direção Oposta, em paralelo com a Contramão, atua de forma proativa e não vai tolerar nenhum desvio de conduta. É só o começo. Temos indicativos de que isso também ocorre em outras localidades”, disse o delegado.
Entre as fraudes identificadas estavam as vistorias realizadas “no escuro”, pelas quais usuários conseguiam legalizar os seus veículos sem a realização da vistoria anual ou da vistoria para a transferência de propriedade com a emissão do CRLV 2011.
Com a “agilização de vistorias”, usuários entravam em contato com funcionários do posto de vistoria e ofereciam propina, com o fim de obter a aprovação dos seus veículos e a emissão do CRLV.
“Quebra de orelha” consistia na retirada de gravames do sistema do Detran e emissão de nova documentação em nome de “laranjas” para veículos que estavam alienados, com o uso de documentos falsos.
“Pulo”, era operação de transferência de propriedade do veículo para terceiro sem a realização de vistoria e do pagamento de taxas obrigatórias.
Candidatos pagavam de R$ 800 a R$ 4.000 para obter uma CNH sem que precisassem comparecer às aulas práticas e teóricas, sendo a mesma prática criminosa descoberta não operação Contramão 2.
“São três núcleos diferentes que não tinham relação entre eles. A operação se iniciou em Paracambi e na Região dos Lagos. Com o caminhar, a gente viu que as atividades eram as mesmas. E a coordenação geral do Gaeco decidiu fazer uma única operação", disse o subcoordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Marcelo Barbosa Arsênio.
Segundo a polícia 88 “laranjas”, só na cidade de Paracambi, participavam do esquema. Pessoas falecidas tiveram seus nomes envolvidos, outras sequer moravam na cidade. Também eram utilizados no esquema endereços falsos para registrar o domicilio dos donos de veículos. De aproximadamente 1.400 emplacamentos realizados na cidade em 2011, 200 tiveram sua legalização fraudada.
O corregedor do Detran-RJ disse que o cidadão deve desconfiar de facilidades no processo de vistoria. “Na dúvida, o cidadão deve procurar a ouvidoria do Detran ou a corregedoria. Os serviços nos postos continuam normalmente, não param, quem estava marcado ao longo da semana pode comparecer para realizar o serviço”, disse Alves.
Diferentemente da operação Contramão, que no mês de outubro prendeu uma quadrilha que falsificava carteiras de habilitação no Rio, a operação Direção Oposta visa a coibir a chamada “máfia da vistoria”, que facilitava a transferência de veículos e vistorias no Detran em nove cidades do Rio de Janeiro.
Ela começou a partir de uma investigação da Corregedoria do Detran do Rio de Janeiro, em conjunto com o Gaeco. Ainda na rua para cumprir mandados de prisão, busca e apreensão, participam da ação seis delegados, cinco promotores de Justiça e de mais de 200 agentes da Polícia Civil.